sexta-feira, 15 de junho de 2007

Diz que me apetecia...


Às vezes, apetecia-me ser uma espécie de jornalista. Não um (ou uma) jornalista, mas uma espécie. Daqueles "diz que é" jornalista, mas que ninguém sabe bem ao certo o que é. Do tipo: 'bora lá aparecer em frente à câmara, dizer 3 ou 4 balelas e receber um cheque cheio de zeros... Ou 'bora lá a uns eventos, falar com umas cabeças ocas, escrever umas linhas sobre as belas roupas, os passeios fantásticos, a última moda, o mau gosto... e sair da redacção a tempo de ir ao ginásio, ao cinema, beber um copo, ter vida social.
Isto de ser jornalista a sério dá muito trabalho. Temos de cruzar fontes, confirmar acontecimentos, explicar conceitos complicados, fazer pesquisas, limitar o texto ao espaço (e tempo) disponível, fazer depressa e bem. Queremos conversar sobre futilidades e não conseguimos. Só nos saem nomes de ‘ilustres’ que ninguém conhece, acontecimentos que passaram ao lado da maioria dos portugueses, expressões que demoram três quartos de hora a explicar.
Apetecia-me poder dizer disparates e ninguém levar a mal. Apetecia-me não ter de perceber complicado para explicar fácil. Apetecia-me não ser exigente, contentar-me com pouco, ser idiota e feliz. Apetecia-me votar em Lisboa, eleger o PNR e acabar com a EMEL.

Valdispert

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